quinta-feira, 24 de março de 2011

Os devaneios Angelicais da Perfeição

Um conto por Gunar Seidler Bastos


Houve um tempo em que o céu era azul, as árvores dominavam os campos e o universo viva em harmonia, nesse mundo, eu busquei a perfeição. Guiado pelo Pai escapei de minha vila e dediquei minha existência a perfeição, e dediquei tal perfeição para os trabalhos do Pai. Contudo este não chamou por minha perfeição.


Por muito tempo segreguei-me do mundo, por muito tempo vivi contemplativo, preservando os detalhes em minha mente, e reproduzindo-os em meus movimentos, até o dia em que não mais pude ficar parado, e precisei ir de encontro ao mundo.


O que seguiu foi o esforço de poucos para manter muitos a salvo, por mais que nunca ninguém tenha pedido fiquei com eles, não pude voltar para onde estava. Imagino o que tenha acontecido com o santuário. Estaria ele a salvo por tanto tempo que eu dediquei a ele? Ou esses seres imundos já teriam destruindo o templo à perfeição?


Mesmo assim, mesmo com esse céu indefinido, que brilha em diferentes cores cada vez que eu olho a ele, ainda assim existe perfeição. Imagino se o Pai não ter pedido pela minhas habilidades foi proteção, esquecimento, ou se este momento é o chamado. Céus, as vezes penso que o que aconteceu aos aldeões começa a acontecer comigo.

"Vá dormir um pouco Anjo, eu assumo daqui"

Ah sim, Maethor, eu estava de vigia... Novamente perdido em devaneios. As criaturas não fizeram nada essa noite, só olharam, nenhum movimento, nenhum grunhido. Imagino o que elas fazem, o que pensam. Pélias, Leonardo, diz que sabe, mas ele é corrupto, sujou sua própria alma, se ofereceu para isso, é o que dizem. Talvez ele entenda mesmo.


Don coloca a tocha no seu suporte, iluminando o local de repouso superficialmente. O forro feito com mato, palha e restos do que se chamou de civilização isolavam o ambiente o suficiente pras pessoas não sofrerem de hiportemia, grupos de pessoas dormiam próximas na tentativa de compartilhar o calor, e ter uma noite agradável.


Talvez os sonhos dessas pessoas fossem agradáveis, talvez elas tivessem esperanças renovadas, eu gosto de pensar assim. Hora de acordar o próximo, e renovar alguma das minhas forças, e amanhã será um dia de trazer perfeição a este novo mundo.


terça-feira, 22 de março de 2011

Despertar de um mundo novo

Um conto por Gunar Seidler Bastos


'Que fique claro, eu só estou escrevendo isso porque ela acha que pode me ajudar a seguir em frente.' 


Maethor se inclina um pouco desconfortável sobre o caderno sujo que virou diário, a luz trêmula do fogo era o mais próximo de iluminação que se conseguia, Ele não sabia quanto o lápis iria durar e quando iria achar outro. Os luxos da antiga era eram escassos e raros.


 'Com o passar do tempo guerreiros acabam perdendo a fé que palavras possam mudar alguma coisa. Eu perdi, tentar falar com essas coisas nunca levou a nada, apesar de Pélias afirmar o contrário. Não sei em que viagem maluca ele já se meteu, mas eu simplesmente não consigo imaginar que seja possível uma solução pacífica a essa altura.'


'A alguns anos atras um inimigo começou a conspirar contra as divindades, inicialmente fez algumas pequenas coisas, mas que acabou levando a todos os servos das divindades gregas a olharem pro lado errado. Quando descobrimos o que estava acontecendo era tarde demais. Hades, Athena, Poseidon, Apollo, Artemis e até mesmo os deuses do Norte, Oeste e mediterrâneo se lançaram em batalha direta contra o novo inimigo, e perderam... na verdade não... eles foram vitoriosos! Se não fosse o sacrifício deles nunca teríamos sidos capazes de escapar a ira inicial, e organizar o grupo que vem se desenvolvendo a cada dia.'


Ele ouve repentinamente um barulho, a mão vai direto a bainha e saca a espada fazendo o barulho característico que acorda algumas das pessoas, deixando-as assustadas. Maethor abaixa a cabeça pensativo, coloca a espada sobre a pedra promovida a mesa, e continua a escrever.


'Mesmo assim, eu tenho me desgastado. Em cada cidade que passamos tudo o que vemos são sombras de humanos. Todos os que não controlavam o poder do cosmos passaram a confiar mais nas suas impressões do que no lógico, do que no evidente. Conseguimos resgatar alguns e mante-los a salvo, mas por enquanto estamos mais para captores do que heróis. Alguns tentam fugir a noite, e os que eventualmente conseguem inevitalmente são mortos, ou tornam-se marionetes das criaturas. Fomos forçados a viver em esconderijos, cavernas, prédios abandonados, locais onde não se possa ouvir os sobreviventes e onde possamos vigiar a entrada caso algum deles passe desapercebido.'


'Contudo essa vida esta se tornando complicada. Fica difícil mover pessoas de um lugar ao outro as escondendo e ainda assim fazer avanços para reconquistar o que nos foi tomado. Talvez seja a hora de buscarmos um lugar que possamos chamar de nosso. Um local onde possamos ensinar a verdadeira fé aos sobreviventes, onde eles possam treinar e defender a humanidade contra esses seres imundos que ousaram invadir nosso lar.'


'Mas isso é discussão para o dia, a noite caiu e em breve a troca de turno acontece de novo. Maldição, outra noite em claro.'


O servo de Eru gentilmente fecha o caderno e guarda em uma das partes internas da armadura. Maethor, empunhando sua espada e uma tocha que iluminava o local, segue em direção ao local de guarda.


"Vá dormir um pouco Anjo, eu assumo daqui" — Disse ele tocando o ombro de Don, que assentiu e se retirou para a caverna, com a tocha que Maethor trazia. Ao fundo alguns olhos brilharam de forma peculiar.


'Querido diário. Vai ser uma noite longa'