terça-feira, 19 de abril de 2011

A entrada da Caverna

Um conto escrito em conjunto por Gunar Seidler Bastos e Daniela.

Syrene se move silenciosamente, o escuro não lhe incomoda, a terra mostra o lugar de tudo pra ela, e as tenues tochas lançam sombras esparsas. As criaturas se movem la fora, distantes, não haveria ameaças essa noite, mas ela não pode predizer o futuro mais e prefere não trabalhar com suposições.

Viver, sobreviver, lutar; verbos sempre no infinitivo, uma tentativa de perpetuar a vontade de cada alma que é salva, ou que se perdeu. Tudo reduzido a vontades e desejos, praticamente mais nenhuma civilidade. Cada um tentando se agarrar a razão com o que pode e nao se perder no turbilhão de insanidade que os cerca.

Parecem seculos, mas passaram apenas anos. Anos em que tudo conhecido ruiu e nada mais é certeza. Talvez nao fosse ela que nao possa prever futuro, talvez nao existe um futuro construido ainda para ser vislumbrado.

Antes da entrada ela cessa seus passos e observa, cabe a eles construir o que virá. A lua ilumina pouco a entrada da caverna, escondidos em trevas eles comtemplam por segundos a mesma visão, de um mundo devastado e aterrador.

O homem que antes usava uma armadura branca, agora traja uma veste negra. Maethor espera pacientemente o sinal que deveria se mover e acabar com aquelas criaturas, mas nada acontecia. Seu desejo de vingança sobre eles tinha que esperar, ele precisava de um lugar para deixar os refugiados antes de poder agir por impulso.

Maethor sente uma presença atrás dele, alguém familiar que muito lhe alegrava. O servo de Eru retira seu elmo grotesco e se vira brevemente.

"Você é a próxima?"

Syrene fita o homem a frente, lembrando de tudo que ja passaram e de como ele lhe tirara do Inferno em que estava desde sua saida dos Eliseos, devia muito mais a ele do que poderia pagar - "Voce precisa descansar, sinto sua inquietação. Mesmo que a paz nao esteja em sua alma, voce precisa dela em sua mente para planejarmos os proximos passos." - Syrene olha pro exterior, a proteção deles é parca, primitiva e nao lhes ajudaria a criar vinculos ou plantar o que precisariam, de algum modo ela tem o impulso de refazer o que a humanidade perdeu tao brutalmente - "precisamos de um grande refugio"

Ela ergue a mao e nao deixa Maethor protestar - "Um lugar aonde possamos recomeçar, dar o minimo, mesmo que temporario de normalidade aos refugiados"

Ele se aproxima alguns passos e diminui a distancia tomando a mão de Syrene delicadamente, Maethor pode sentir o calor suave que ela emana, e isso lhe conforta - "Eu tenho isso em mente, a algum tempo. Mas eu temo que os princípios tenham tirado dos refugiados exatamente isso, o conceito de normalidade, é como se eles só se sentissem tranquilo seguros, não importa onde."

"Logo nao poderemos viver apenas de saques a mercados, voltamos a idade medieval, precisamos estabelecer um ponto aonde se possa plantar, criar, dar casas, pra que a humanidade floresça. Não apenas por eles, mas pra dar forças aos deuses onde for que eles estiverem. Talvez devessemos pensar em usar nossas habilidades e construir uma fortaleza, mas me pergunto se isso nao acabaria atrando mais ainda a atenção indesejada." - Ela faz uma pausa sentindo o peso que ambos carregam no momento - "Sera que alguma fortaleza nao resistiu, um lugar aonde pudessemos estabelecer um lar sem chamar a atenção dessas criaturas?"

"Eu entendo, mas existe um medo irracional na mente deles que eu acredito que só uma coisa pode retirar, um símbolo. Uma fortaleza, claro, mas um símbolo de esperança, de luta. Nós vamos precisar não só construir um novo lugar, mas dar um nome, defender, derrotar muitos, enfrentar tenentes e generais dos princípios. Um lugar onde não exista medo, mas confiança que os Deuses os guardarão." - Maethor da alguns passos pro lado e se senta no chão da caverna, fazendo a armadura emitir todos os tipos de sons estranhos e desajeitados. A lua não o ilumina, como se as trevas o abraçassem e escondessem nao só a sua face, mas o homem que ele fora antes - "Quando a cidade estiver feita. Nós conseguiremos defende-la de quase tudo. As kekkais dos deuses podem não mais existir, mas podemos usar as capacidades do Pélias para selar parte do poder e influência deles, Éson poderá curar os feridos e reparar as armaduaras, e nós 3 faremos o que melhor sabemos, matar os desgraçados. Mas nenhum de nossos poderes foi feito com o intuito de construir, mesmo que usemos eles, demoraria muito. Precisamos de alguém que seja capaz de levantar o local durante as horas de sol de 1 ou 2 dias. Nós precisamos de ajuda."

"Teriamos que buscar todos os outros, e achar os Titãs, eles sao capazes de fazer isso, senao tiverem sido corrompidos ou senao tombaram. Precisamos buscar outros "talentos", talvez novatos com poderes florescendo. Não me lembro de mais ninguem entre os antigos guerreiros que pudesse erguer fortalezas" - Ela se senta no lado oposto da caverna e olha pra fora, esperando que algum dia as trevas se dissipem como as brumas deixavam os campos nos dias de primavera - "Mas voce sabe que muita coisa mudou entre o tempo que fiquei ausente"

"A quantidade de mortos não. E pelo que observei, os deuses estavam mais preocupados com vencer guerras do que constuir novas coisas. O mundo estava em um estado acabado, eles não precisavam de construtores. Mas acredito que em algum lugar o mundo deve ter providenciado uma forma de reiniciarmos a humanidade. Nós só precisamos achar eles."

Syrene pega um punhado da terra, agora enegrecida e seca de onde estao sentados e deixa cair por entre os dedos - "Se eu ainda fosse capaz de ver o futuro, mas estou totalmente cega pro que nos espera"

"Não se preocupe tanto com o futuro. Não importa o que nos espera, nós vamos passar por isso juntos."

Ela sorri - "eu sei, essa tem sido minha unica certeza desde que retornei" - Ainda olhando as sombras que dançam no homem a sua frente, ela força sua mente a raciocinar e tomar um rumo pratico - "Se entre os nosso deuses nao havia construtores e os demais?, no crepusculo soubemos de muitos deuses, será que entre eles nao existe aqueles que precisamos?"

"Possível, mas eu nunca estive lá, não sei como entrar ou sair, nem quem seja capaz de tal proeza. Talves Iápeto possa chegar a dimensão..."

Syrene olha pra fora, lembranças que antes eram como chuva de verão agora são muitas vezes fragmentos, sem começo ou fim - "eu possuia uma das chaves, mas nao sei se ainda existe aquele lugar, nem aonde a chave esta"

Ele assente,  com tanto caos e devastação nao vê por onde começar a procurar tal chave e nem se lembra dela quando Syrene estava nos Eliseos. Se tal chave existe pode estar vinculada a alma que agora habita esse novo corpo, ou entao se extinguiu nas cinzas do antigo corpo. As vezes ele pensa se ela se recorda como morreu, como seu corpo foi reduzido a apenas cinzas a flutuarem no vento. Se nao fosse pela misericordia de Hades, nem mesmo ela poderia passar pelo rio, pois nao houve nem enterro e nem moedas ao barqueiro.

"Nós vamos encontrar uma forma. Precisamos que falar com todos, assim que a manhã chegar. Se vamos perseguir isso, é hora de levantar acampamento, e seguir adiante."

Syrene deixa a poeira seguir com o vento

"Talvez o norte seja uma boa opção, nao temos noticias de como as coisas ocorreram por la e existe grandes cidades que podem nos prover"

"Precisaremos de locomoçao pros refugiados, a viagem será longa de qualquer forma"

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