sexta-feira, 1 de abril de 2011

Este Mundo Tenebroso

"Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes."

A luz agredia os olhos de Shaun, o cheiro era pesado e carregado de alguma coisa que ele nunca havia sentido antes. Havia um zunido, um além do choque de voltar gradativamente a consciência, aos poucos, a visão se acostuma com as luzes, que algumas vezes piscavam. ELE ESTAVA EM UM HOSPITAL, E ESTAVA SE SENTINDO ESTRANHAMENTE BEM!


Shaun apertou o interruptor mágico que faz as enfermeiras bonitas (ou não) aparecerem no quarto, INÚMERAS vezes, e nada acontecia. A medida que a lógica voltava ao seu corpo ele notou que a bolsa do soro já havia se esgotado, que os aparelhos que medem sinais vitais pareciam com defeito, e que possivelmente ninguém ia vir.


Ele faz força para lembrar o que foi que fez, dessa vez, pra merecer toda essa parafernália, a única coisa que vinha a mente dele era um camping, ou trilha, tinha árvores, ele seguia o fluxo de um rio. Uma dor súbita invadiu o corpo dele, ele instintivamente esmurrou a aparelhagem que caiu no chão, presa pelos eletrodos. Ainda nada acontecia. Nenhum movimento. 


Os eletrodos são arrancados com violência do corpo que vestia apenas aqueles aventais odiosos. Shaun apenas tomou cuidado para retirar a agulha do soro, que para a surpresa PARECIA NUNCA TER SIDO COLOCADA EM SEU CORPO! Pelo menos ele estava livre para encontrar alguém naquele maldito e fétido hospital. Ele devia estar em algum lugar interiorano, onde o hospital ficaria junto de um estábulo ou pocilga. Malditos Caipiras.


Os primeiros passos eram trêmulos, mas assim que conseguiu apoio da parede tudo se tornou mais fácil. Minutos de corpo sendo arrastado pelas paredes, e tudo o que ele podia ver eram televisões fora do ar ou desligadas, e portas fechadas, geralmente de quartos vazios. MALDIÇÃO. Elevadores estavam fora de serviço. Tudo estava fora de serviço, até mesmo a maldita MORTE devia estar fora de serviço. Foram uns 5 andares de tropeções, arranhões e algumas quedas nas escadas, mas finalmente ele havia chegado no térreo.


DESERTO! PORQUE TUDO TEM QUE ESTAR DESERTO? Ele cambaleia até a recepção e abre a portinha por onde as enfermeiras passam. Já tinha perdido a esperança de achar alguém com vida além de ratos, porcos e cavalos. Ele precisava de suas roupas, chave do carro, carteira, e óculos escuros. Maldita luz. INFERNO. Depósito é no 8º andar. Pensando no lado positivo, o cheiro de podre havia diminuído. E era só alguns minutos pra subir, pegar as suas coisas, e sumir dali pra algum lugar civilizado. Londres talvez?


Quinto Andar, o cheio estava horrível de novo, infelizmente parecia que ia ficar pior, a cada novo andar galgado aquele fedor aumentava. Finalmente o 8º Andar. O cheiro era inebriante, Shaun desconhecia uma palavra pra descrever aquilo, novamente deserto, não haviam indicações claras de onde ficava o local, mas ele procuraria até o fim. A visão começou a ficar turva e ele caiu de joelhos enquanto recuperava o fôlego. E ele achava que camping era aventura. UMA PESSOA! Ela estava de pé, como se usando um manto que cobria até os pés, mas ele só via o vulto. SHAUN TENTA GRITAR! mas apenas uma tosse seca sai, acompanhada de sangue. Quando Shaun recobra a compostura, o vulto não estava mais lá!


O intrépido hospitalizado segue o vulto, para achar apenas o motivo do fedor. Um rastro generoso de sangue. Dali em diante o chão estava coberto dele. O depósito onde encontraria suas roupas e o que precisava para sair daquele lugar imundo e medonho estava logo adiante, no meio do mar de sangue. Na porta o desenho de uma aranha! Estilizado, como se fosse um tipo de arte antiga, daquelas coisas que os artistas classificam e acham grandes coisa. A porta abre-se e finalmente ele encontra alguém naquele prédio. MORTO!


Shaun dá uns passos pra trás e cai sentado no sangue que óbviamente não podia ter saído só daquela pessoa. O que tinha diabos acontecido ali? Shaun esperava, olhando estupefato e chocado, que o morto se levantasse e começasse a correr atrás dele feito zumbi, mas não, aquele ali estava morto mesmo. Seus braços e pernas estavam cobertos por sangue, e isso não fazia ele se sentir melhor de nenhuma forma. Não foi preciso mais do que um chute pra quebrar a porta, o pé dele atravessou aquilo que parecia ser algo velho e delicado mascarado de novo. Ele fez isso de novo perto da fechadura e conseguiu arrancar o mecanismo fora da porta. Dentro do depósito haviam muitos mais mortos, todos da mesma forma. 


O cheiro e a visão fizeram Shaun vomitar qualquer coisa que ele tivesse comido da última vez que comeu. Desesperado, ele procurou por algo pra se limpar, e algo pra transportar suas roupas. Shaun acabou destruindo metade do depósito, e possivelmente pegando bem mais coisas que só as dele, mas DANE-SE, ele não queria ficar perto de gente morta, seca, como se tivessem participado de algum ritual estranho. MALDITOS CAIPIRAS IDIOTAS.


Shaun corre pro quarto onde acordou. Parecia menos inseguro. Limpou-se apressadamente e conferiu que tinha o que precisava. Colocou a roupa e notou outro vulto? ou seria o mesmo? MEDO corria pelas veias agora, seja lá o que sobreviveria disso tudo não podia ser coisa boa. Ele desceu as escadas com destreza exímia, a adrenalina levava o corpo débil dele a superar qualquer limite clínico que houvesse.


Ele saiu correndo hospital afora. A porta de aço se bateu atrás dele enquanto Shaun permanecia imóvel, estupefato. As construções estavam destruídas, como se alguém tivesse virado ela de pernas pro ar, mas uma coisa era certa. ELE ESTAVA EM LONDRES!

1 comentários:

Kinn disse...

Esse realmente parece filme de terror.

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